segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A mulher negra e o movimento feminino no Brasil


A mulher negra e o movimento feminista no Brasil

Onde vais à tardezinha,
Mucama tão bonitinha,
Morena flor do sertão?
A grama um beijo te furta
Por baixo da saia curta,
Que a pena te esconde em vão...
(Castro Alves)

Nome: Denise Maria Antonio
Curso: Licenciatura em Ciências Sociais –EAD
RA : 300425
Universidade da  Cidade de São Paulo – Pólo em Piracicaba/SP




                                                               
Resumo: O movimento feminista no Brasil se iniciou no século XX, e ganhou força na década de 80. As mulheres irão lutar por igualdade de trabalho, educação e liberdade de pensar e agir. Essa nova mulher não é mais ingênua, ela sabe o que quer e deixa o seu posto de rainha do lar para conquistar espaços antes apenas dos homens. Mas será que essa luta valeu para todas as mulheres? Brancas, negras e pardas? Infelizmente não. Será um movimento realizada pelas mulheres brancas de classe média e alta da nossa sociedade. A discussão de temas como gênero, raça , desigualdades em torno das mulheres e em especial da mulher negra não era discutido.A mulher negra ainda continua na margem de pobreza de nossa sociedade e na exploração de trabalhos domésticos e sexuais.Essas questões de debates foram criadas dentro de ONG (s) e de Movimentos Negros no Brasil.A mulher negra ainda carregada o fardo da escravidão que precisa ser enterrado o mais rápido possível.
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Palavras –chaves : movimento feminista, gênero, mulher negra, discriminação.

Summary: The movement feminist in Brazil if initiated in century XX, and gained force in the decade of 80. The women will go to fight for equality of work, education and freedom to think and to act. This new woman is not more ingenuous, it she knows what she wants and she leaves its rank of queen of the home to before conquer spaces only of the men. But she will be that this fight was valid for all the women? Whites, blacks and mediums brown? Unhappyly not. It will be a movement carried through for the white women of middle class and high of our society. The quarrel of subjects as sort, race, inaqualities around the women and in special of the black woman was not argued. The black woman still continues in the edge of poverty of our society and in the exploration of domestic and sexual works. These questions of debates had been created inside of ONG (s) and Black Movements in the Brazil. A still loaded black woman the pack of the slavery that it needs to be embedded fastest possible.
Words - keys: movement feminist, sort, black woman, discrimination.

Antes de falar do movimento feminista no Brasil e o papel da mulher negra na sociedade,devemos analisar o papel da mulher na sociedade brasileira e no mundo. Como sabemos, a mulher era subalterna ao homem, não podendo expressar sua opinião ou vontade própria, cabendo apenas o papel de cuidar do lar, dos filho e do marido, como afirma a historiadora SOUSA ( 18/08/2010) :

“ Durante vários séculos, as mulheres estiveram relegadas ao ambiente doméstico e subalternas ao poder das figuras do pai e do marido. Quando chegaram a se expor ao público, o faziam acompanhadas e geralmente se dirigiam para o interior das igrejas.A limitação do ir e do vir era a mais clara manifestação do lugar ocupado pelo feminino.”


No decorrer do século XIX, houve um inicio de progresso feminino quando “ o governo imperial reconheceu a necessidade de educação da população feminina.”( SOUSA 18/08/2010), entretanto,esse avanço de conhecimento era apenas voltado às famílias abastadas.
Com o avanço de uma sociedade industrial no Brasil no inicio do século XX, surgiram novas formas de pensar e viver, a mulher cada vez mais vai querer seus direitos respeitados e assumindo, mesmo que aos poucos, postos de trabalhos e dividindo-os com tarefas dos lares, como afirma SOUSA (18/08/2010):

“No século XX, os papéis desempenhados pela mulher se ampliaram quando algumas destas se inseriram em uma sociedade industrial, onde assumiram uma gama diversa de postos de trabalho. Apesar disso, a esfera da mulher ligada ao lar continua a ter sua força hegemônica.”


Mas será nas décadas de 60,70, e até mesmo 80 e 90 que o movimento feminista no Brasil, e no mundo, ira ganhar o seu espaço. Como destaque , na década de 60, as mulheres começam a participar da vida política do Brasil, não mais restrito ao mundo privado dos homens, mas um envolvimento das questões de cidadania do país. Basta ver que na década de 70, em pleno Regime Militar, a mulher vai as ruas como afirma COSTA ( 07/07/2005) :

“ Esse movimento do feminismo nasce na América Latina nos anos 70 em meio ao autoritarismo e a repressão dos regimes militares dominantes e das falsas democracias claramente autoritárias.Surge como conseqüência da resistência das mulheres à ditadura militar, por conseguinte, intrinsecamente ligado aos movimentos de oposição que lhe deram uma especificidade determinante, sob o impacto do movimento feminista internacional e como conseqüência do processo de modernização que implicou em maior incorporação das mulheres no mercado de trabalho e a ampliação no sistema educacional.”


Nos anos 80, inicia uma nova fase do movimento feminista no Brasil. A saúde da mulher será o centro das a tenções, em um período em que a saúde feminina estava em péssimas condições. É nesta transação que ONG(s) ( Organizações Não –Governamentais) e associações são criadas em todo o país.Questões como igualdade de salário e luta contra à violência serão discutidas nesses locais.
Mas questões como gênero/raça, não eram colocados em debates; basicamente, o movimento feminista era liderado por mulheres brancas de classe média, com uma pequena presença de mulheres negras nesses movimentos, como relata ARAÚJO (1993):

“ O movimento de mulheres pela saúde no Brasil nasceu no inicio dos anos 80, no interior de grupos de mulheres que tinham , além da luta pela saúde, outras prioridades, como a luta por creches, trabalho igual, salário igual e combate à violência contra a mulher.Desses grupos participavam, basicamente, mulheres de classe média que, em sua maioria , apresentavam algum vinculo compartidos políticos de esquerda.Já nesse momento,constatava-se a presença de mulheres negras, mas a questão racial não era colocada como um problema político ou priorizada enquanto tema de discussão.”

 E CARNEIRO( 2003, pág.50) vai mais fundo afirmando que :

“ Nós mulheres negras, fazemos parte de um contingente de mulheres , provavelmente majoritária, que nunca reconheceram em si mesmas esse mito, porque nunca fomos tratadas como frágeis. Fazemos parte de contingente de mulheres que trabalharam durante séculos como escravas nas lavouras ou nas ruas,como vendedoras, quituteiras , prostitutas...Mulheres que não entenderam nada quando as feministas disseram que as mulheres deveriam ganhar as ruas e trabalhar!Fazemos parte de um contingente de mulheres com identidade de objeto.Ontem, a serviço de frágeis sinhazinhas e de senhores de engenho tarados.Hoje , empregadas domésticas de mulheres liberadas e dondocas, ou de mulatas tipo exportação.”

Como sabemos, “a situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período da escravidão com poucas mudanças ,pois continua em último lugar na escala social é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país.” ( SILVA 19/08/2010).
Ao perceber que o movimento feminista estava voltado a outros grupos de mulheres brancas e classe média/alta, essas mulheres que, muitas vezes foram marginalizadas, começaram a se organizar em prol de suas saúde através de grupos de mulheres negras, de periferia, nas diferentes regiões do país, chamado de feminismo popular, que se reuniam em seus bairros através de associações, centros comunitários, sindicatos, etc. COSTA(07/07/2005) afirma que “ esse crescimento do movimento feminismo popular trás como conseqüência fundamental , a diluição das barreiras e resistências ideológicas para com o feminismo”, ou seja, temas como gênero e questão racial , serão discutidos entre esse grupos de mulheres negras, cobrando uma ação política do governo, tais como a luta contra o racismo, saúde, educação, assistência jurídica,entre outros.
Esse movimento feminista da mulher negra está em constante luta de uma nova identidade política, ou melhor, da questão de ser negra. Segundo CARNEIRO ( 2003,pág. 52) :

“ O atual movimento de mulheres negras, ao trazer para a cena política as contradições resultantes da articulação das variáveis de raça, classe e gênero, promove a síntese das bandeiras de luta historicamente levantadas pelos movimentos negro e de mulheres do país enegrecendo,de um lado, as reivindicações das mulheres, tornando-as assim mais representativas do conjunto das mulheres brasileiras e,por outro lado, promovendo a feminização das propostas e reivindicações do movimento negro.”


Outro fator preocupante para as feministas do movimento negro é em relação ao mercado de trabalho, pois em pleno século XXI as mulheres negras ainda ocupam o pior lugar na escala de empregos como relata o artigo O GLOBO de 20/11/2003 :


 “As pretas e pardas estão irremediavelmente nas piores posições no mercado de trabalho, têm as mais altas taxas de desemprego, ganham os menores salários e chefiam as famílias mais pobres. Segundo o levantamento do Instituto e Estudos do Trabalho e Sociedade, em 2002, o desemprego entre as negras era de 13,2%, contra 10,2% das brancas. Entre os homens: 8,3%(negros) e 6,5% ( brancos.)
Quase sempre, quando começam ( e passam) a vida trabalhando como empregadas domésticas ou babás.É um ranço de cultura escravocrata que alcançou o Brasil do século XXI.Segundo o IBGE, 13,7% das pretas que trabalham são domésticas, contra 9,1% das pardas e 6,3% das brancas”


Reforçando a citação acima, 85% das mulheres negras encontram-se abaixo da linha da pobreza e o seu analfabetismo é o dobro da mulher branca.
O que percebemos é a falta de conhecimento do movimento feminista com a mulher negra, como relata ARAÚJO ( 1993) :  

“As mulheres negras estão presentes no movimento feminista, mas o conhecimento que o movimento feminista,mas o conhecimento que o movimento feminista como um todo tem dos problemas por elas enfrentados é fragmentado e adquirido em espaços gerais de discussão de outros temas.Falta na bagagem do movimento feminista uma discussão mais profunda sobre o racismo e suas conseqüências perversas sobre a vida e a saúde da mulher negra.Discutir a especificidade da saúde da população negra,e das mulheres negras em particular, pressupõe não apenas uma análise socioeconômico, mas também o representar a ciência enquanto produtora e detentora do conhecimento.”   


Portanto, “o movimento feminista foi racista no sentido de não atender as singularidades de outros tipos de mulheres, tornado sua luta generalizada. As mulheres negras por serem vistas de maneira diferente das brancas, mereciam também reinvidicações diferentes.” ( QUARESMA, 04/01/2008).
A mulher negra  ainda carrega o fardo de exclusão na sociedade ainda arraigados da escravidão e que ainda vive em nossos dias , em um passado tão remoto que ao mesmo tempo se torna muito presente, porém , essas mulheres guerreiras encontram força e coragem de ir em busca de seus sonhos: igualdade e valorização, tanto interna como externa.

BIBLIOGRAFIA :

ALVES,Castro. MariaIn: Os Escravos.Coleção Clássicos da Literatura,página 127,2000.
ARAÚJO, Maria José de Oliveira. Reflexões sobre a Saúde da Mulher Negra e o Movimento FeministaIn: Almanaque da Mulher Negra.Piracicaba/SP: Ano I, nº 01,páginas 34-38, março/2002
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gêneroIn: Racismo Contemporâneo.Rio de Janeiro/RJ : Sindicato Nacional dos Editores de livros,páginas 49-59,2003.
COSTA, Ana Alice Alcântara. O movimento Feminista no Brasil: Dinâmicas de uma intervenção política.Artigo lido no site :www.vsites.unb./br/ih/his/gefem/labrys7/liberdade/anaalice.htm . Acessado em 18/09/2010 e publicado em 07/07/2005.
QUARESMA,R.C.A mulher negra no Brasil Contemporâneo.Publicado no Recanto das Letras em 04/01/2008.Código do texto: T802241.Site:www.recantosdasletras.uol.com.br
SOUSA, Rainer.. Feminismo no Brasil. Site: www.historianet.com.br. Acessado em 19/08/2010.
Artigo: A cor do Brasil, caderno especial de OGLOBO, 20/11/2003. Autora Mirian Leitão.

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